quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

MOSQUITEIRO




Jacinta, no tempo
de menino quando vivia
lá na tapera
o nosso mosquiteiro
não via pano
não via branco
não via bordado
só via a barra
de sangue derramado
dos carapanãs.

PEPE CASTILLO

O NADA

Ver o nada, sentir o nada, imaginar o nada, ouvir o nada e rever o nada.

O nada ostenta.
Onde o nada é a causa e efeito de nada existir, o nada liberta da livre neutralização do nada, o nada é traço em que nada se movimenta...

O nada remexe.
Nada, pode mudar o nada - tudo se transforma no verdadeiro nada. O nada é indefinido, nada pode negar os sons do nada.
Nada vem e nada confunde. Nada é por causalidade e nada elegem os erros entre o bem e mal.

O nada valoriza.
O nada reencontra aquilo que nada foi dito, o nada se justifica por saber se verbalizar e substituir aquela ordem externa a qual passa ser secreta no nada.

O nada floresce.
Deixar de assistir o nada é ser vã.
Solitário.
Em que os caminhos do nada revivem diversas misturas de linhas e comportamentos, numa freqüência calibrada há mil por hora...

O nada tenta.
Zanga com o martírio da ilusão, da lógica e da utopia.
O nada desvia o real da realeza numa linguagem codificada. O nada anula o ritmo da forma.
Símbolo.
Eterno.
NADA.

FESTA DEBUTANTE



beberemos no Cabelo
beberemos na Calçada
beberemos no Pensador
beberemos sem parar

iremos a gastar
banharemos de rum
e depois faremos amor
ouvindo tua canção

e recordaremos da poesia
despertaremos da orgia
partiremos um só instante
seremos só um debutante

Pepe Castillo


NOSTALGIA PATER

 
de noite voltarei a te embalar...
meu destino é amar
no jardim da poesia a tua flor branca,
é Angélica,
ilumina versos germinando minha saudade e
o meu poema.

de noite voltarei a te embalar...
e na linda do horizonte me distrai
esquecendo meu vulto paterno.
sairei a noite perdido
pelo jardim e serei mais um
pater na liberdade do morro

de noite voltarei a te embalar...
no berço poético uma tristeza, uma dor
eu, por vinte oito momentos
senti a tua presença me acompanhar,
e um aroma sutil de angélica jardim...

                                                                   PEPE CASTILLO

BENDITOS


bendita seja a tapera
onde nasceu Tião
em lua cheia
na visita do compadre Chico
e da comadre Tonha

bendito seja o igarapé
frio de tantos pulos e segredos
que na solidão de tia Jacinta
vinha cantar os mesmos versos

bendita seja a prosa
do velho Cazuza nos
pés de abacateiros

bendito seja o real
de cada dia

bendita seja vossa mata

bendita seja

poesia.
PEPE CASTILLO

MERGULHO AZUL

MERGULHO AZUL

na noite em que caiu
a estrela e a lua
mergulhei no céu

que brotava
do azul sagrado
das pontas do rosário

e nas águas negras
me banhei de poesia.

PEPE CASTILLO